Castro do Banho

Localizado no lugar de Ferreiros, na margem direita do rio Vouga, na confluência de um pequeno riacho, e a pouca distância das actuais termas de São Pedro do Sul, o "Castro de Banho" foi objecto de escavação em meados dos anos cinquenta do século passado (e retomadas na década de setenta e em 2000), da responsabilidade de João Manuel Bairrão Oleiro, na sequência do interesse que a estação também despertou junto de outros investigadores, a exemplo de A. Amorim Girão, José Coelho (detentor de uma significativa colecção arqueológica) e Fernando Russell Cortez, que veio a ser director do Museu de Grão Vasco, em Viseu. A campanha arqueológica então conduzida permitiu colocar a descoberto mais de trinta estruturas habitacionais de planta predominantemente circular, à semelhança do que se tem observado noutros testemunhos desta tipologia inserida no universo da denominada "cultura castreja", suspeitando-se, já na época, que o seu número ultrapassaria a centena, razão mais do que suficiente para que J. M. Bairrão Oleiro enfatizasse a sua relevância. Uma dedução que indiciaria a elevada concentração populacional, por um lado, e a pertinência do local escolhido para o desenrolar das suas actividades quotidianas, justificando, assim, a utilização do povoado durante uma larga faixa temporal, embora essencialmente enquadrada na Idade do Ferro estipulada para esta região do actual território português. Uma preferência perfeitamente compreensível atendendo aos excelentes recursos cinegéticos da zona e ao posicionamento estratégico do castro na ampla malha de rotas de transumância, de passagem de gentes e de intercâmbios de produtos. Embora maioritariamente circulares, as estruturas exumadas também apresentam planta ovalada e quadrangular, denunciando a complexidade quotidiana dos seus habitantes. Dispostas ao longo do recinto definido pelo primitivo muralhado, do qual remanescem apenas alguns panos desmoronados, aquelas construções harmonizam-se com as curvas de nível do outeiro onde o povoado foi implantado, através de socalcos, com a particularidade de terem sido parcialmente escavadas nos rochedos aí existentes. Embora pouco tenha sobrevivido dos artefactos então recolhidos, é ainda possível observar, nas colecções da "Distrital de Viseu" e de J. Coelho (vide supra), e a par de objectos do primeiro período de ocupação do povoado, como pesos de tear, mós manuais e fragmentos de cerâmica comum, um exemplar de terra sigillata hispânica decorada com círculos concêntricos, datável do século II d. C., muito possivelmente proveniente de um dos maiores centros de produção cerâmica de toda a Ibéria: Tricio. Mas elementos tão significativos quanto este poderão dizer-nos muito, nomeadamente acerca da inserção deste sítio num modelo de circulação alargada de determinados produtos que, como no caso desta louça fina, de mesa, não chegaram a ser fabricados no actual solo português. Cerâmica importada, por excelência, a presença de terra sigillata demonstra bem como o povoado desfrutava, à época, de uma economia aberta, certamente proporcionada pelas vias naturais (mas não só) de circulação, das quais o rio Vouga não deveria desempenhar um papel de somenos importância (funcionando em simultâneo como inegável fonte de alimentação), ao mesmo tempo que o poder económico fruído pelas gentes que então o ocuparam (Cf. ALARCÃO, J. de, 1990). Esta presença romana encontra-se, ademais, bem representada nos característicos materiais de construção, como tegulae e imbrices, a atestar, no fundo, o carácter de longa permanência das estruturas então erigidas, reforçado pela descoberta de numismas dos imperadores Constantino, Constante e Galiano. [AMartins] Fonte: http://www.patrimoniocultural.gov.pt/

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