A Igreja de São Gião, localizada na Quinta de São Gião, freguesia de Famalicão, é património classificado Monumento de Interesse Nacional (nº2 do art.º 15 da Lei 107/01 de 8 de Setembro).
MN, Dec. Nº1/86, DR, 02 de 03 de Janeiro de 1986. ZEP, Portª. N 78/97 (2ª série), DR 48 de 26 de Fevereiro de 1997 (inclui área non - aedificandi)
ENQUADRAMENTO: «Rural. Insere-se numa exploração agrícola, adossado a outro edifício mais recente, a cerca de 600 metros do mar, numa língua de terra arável, entre o areal e uma encosta rochosa.» MENDONÇA e MATIAS (1992;2004:1).
Esta Igreja fica a poente do Casal Mota no sopé da Serra da Pescaria. O acesso ao imóvel é feito por um caminho em terra batida, partindo da zona da Ponte da Barca até à Igreja de São Gião. A distância a percorrer é de 2196.50 mts. Ao lado da Igreja, para Poente, fica um conjunto de casas rurais, que integram a chamada Quinta de São Gião.
A relação entre a Igreja de São Gião e as referidas casas rurais ainda não está comprovada, mas pode equacionar-se que, numa época mais tardia, por volta dos princípios do século XVIII, teria sido um conjunto de habitação e armazéns agrícolas onde a própria Igreja terá servido de armazém de alfaias agrícolas.
ÉPOCA: «Século VII/X.» MENDONÇA E SILVEIRA, (1992;2004:5)
SÍNTESE ARQUITECTÓNICA: «Planta rectangular; volume simples coberto por telhado de 2 águas. Fachada principal virada a NO., com empena triangular, rasgada por porta de vão rectangular, com lintel encimado por arco a meio ponto adintelado, rematado por fresta; na fachada oposta reconhece-se o arranque de uma abóbada a berço rebaixado, contornando um arco ultrapassado cujo vão está tapado com tábuas; na parede O. rasga-se uma fresta e um nicho, adossando-se à parte terminal uma armação em madeira, protegendo a dupla arcada aí posta a descoberto. O interior, com tecto em madeira com travamento à vista, é dividido por uma parede transversal que sobe até ao telhado, em que se rasgam 3 arcos peraltados, uma porta e 2 vãos laterais assentes em muretes, a cerca de 1m do primitivo pavimento (a iconóstase), com uma abertura quadrangular perto do telhado; nas paredes laterais do transepto arcos duplos peraltados, apoiando-se em coluna monolítica central e lateralmente em impostas, com relevos (quadrifólios e SS); na parede NO. Rasga-se o arco peraltado, que dava acesso à capela-mor, quadrangular (cujos alicerces foram descobertos nas escavações) assente em impostas, com palmas esculpidas. No chão distinguem-se restos de um pavimento em "opus signinum". MENDONÇA E SILVEIRA, (1992;2004:1 e 2).
SÍNTESE HISTÓRICA: «A antiguidade da igreja de São Gião tinha sido destacada a primeira vez, por Frei Bernardo de Brito, na sua obra “Monarquia Lusitana”. Nela, o cisterciense, referiu ter descoberto várias inscrições romanas no local, que evidenciavam ter existido ali um templo dedicado a Neptuno por Decio Junio Bruto, após a vitória que as suas tropas tinham obtido contra os habitantes de Eurobricium.» ALÃO (2001:148)
Eduíno Borges Garcia na sua obra, “Um templo Visigótico em São Gião” baseou-se na descrição de Brito Alão para elaborar o seu trabalho de arqueologia cujo título já acima se encontra transcrito.
TIPOLOGIA: «Arquitectura religiosa, visigótica, românica. Igreja com 3 naves e transepto, ábside de planta quadrangular, coberta por abóbada de berço, iconóstase, coro-alto (Garcia, Almeida, 1966, 1978). Igreja de nave única, com iconóstase, transepto, ábside, celas monacais dos 2 lados da nave (Schlunk, 1971). Segundo estes autores, a igreja foi construída no séc. 7, integrando-se estilisticamente na arte visigótica, pelo tipo de decoração das impostas e frisos (que surge também em San Juan de Baños e São Frutuoso de Montélios), pelo uso do arco ultrapassado apenas em 1/3 do raio, pelas dimensões dos vários espaços idênticas às de outras igrejas visigóticas (São Pedro de Balsemão) (Garcia, 1966), mostrando a iconóstase influência bizantina. Para Ferreira de Almeida a igreja integra-se num período mais tardio, já de influências moçárabes (séc. 10): o espaço interno muito fechado, centrado em torno do cruzeiro (distinto do espaço mais aberto da arquitectura visigótica), a existência de tribuna elevada sobre a porta, a entrada adintelada com arco de descarga, a solução adoptada na iconóstase, os arcos peraltados e não ultrapassados, os capitéis, o desenho e o recorte dos elementos decorativos (palmetas e acantos), as fortes impostas de acentuada molduração e as possíveis arcadas cegas da capela-mor (cujo arranque é visível junto aos alicerces) são indícios que apontam para a época da reconquista. Para Manuel Nuñez Rodriguez, trata-se de uma igreja monástica que dispunha, entre a nave e um suposto coro-alto, de uma porta e 2 janelas segundo disposição que vai dar à base orientativa da tripla abertura observada futuramente na Igreja de São Julião de los Prados, nas Astúrias. Esquema que marcaria a separação entre o espaço monástico e o ponto de acolhida aos fiéis.» MENDONÇA E SILVEIRA. (1992;2004:3)
ESTRUTURA E MATERIAIS: «Estruturas Autoportantes: Silharia e Alvenaria, telha cerâmica e madeira.» MENDONÇA E SILVEIRA, (1992;2004:4).
DESCRIÇÕES COMPLEMENTARES: «O estudo de Arqueologia da Arquitectura (CABALLERO, ARCE e UTRERO, 2003), esclareceu algumas das anteriores suspeitas e acrescentou novas evidências. A primeira - e possivelmente a mais importante para afastar a recorrente atribuição visigótica - é o facto de os muros integrarem fragmentos escultóricos que podemos catalogar como de época visigótica, facto que pressupõe uma construção posterior à perda de simbolismo desses materiais. Paralelamente, as próprias características arquitectónicas do conjunto afastam-no do universo visigótico e aproximam-no extraordinariamente do restrito número de templos asturianos, conforme se comprova pela existência de tribuna ocidental e câmara supra-absidal. A juntar a estas evidências, há que aprofundar o estudo estilístico dos capitéis da eikonosthasis, cujo vegetalismo e organização em andares aponta também, ainda que com tratamento menos saliente do campo escultórico, para os característicos capitéis vegetalistas asturianos.» IPPAR.
Fonte: www.cm-nazare.pt/